Sunday, January 22, 2006

(In) Utilidades Públicas



“Dormi sem calcinha essa noite. Incrível como a supressão de uma peça tão minúscula pode surtir um efeito devastadoramente fantástico. Ao acordar era uma nova pessoa. Livre”.
Anos atrás esse tipo de relato, senão constante de algum romance, estaria restrito às páginas de um diário, tamanha intimidade que ele retrata. Hoje em dia não. Navegando um pouco pelas páginas da net, um comentário íntimo como esse seria até banal face à quantidade de confidências que se espalham pelos blogs da vida. E olhe que são muitas. Das traições do namorado, até o modo como fulano transa, tudo está disponível bem a mão. On line.
Sou uma garota à moda antiga, adoro papel e tenho uma penca de diários guardados em caixas. Eles estão lá, cuidadosamente armazenados, livre de traças, baratas e principalmente: da curiosidade alheia. Lembro de escrever para desabafar, mas nunca, em nenhuma hipótese, minha vida estaria disponível a todos. Só alguns amigos poderiam ter acesso àquelas páginas tão importantes da minha vida. Diários eram secretos. Segredos guardados e divididos com poucos.
No mundo globalizado tudo parece ter a obrigação de ser compartilhado, comentado, discutido. Seja em chats na internet, em blogs, no orkut. Todos têm acesso a tudo e nem é preciso senha. Basta se conectar. Isso me assusta.
Se tenho medo de parecer antiquada? Talvez. Abandonei os diários há alguns anos, eles se tornaram inúteis, não me satisfaziam mais, muito embora sinta uma imensa satisfação lendo as presepadas da adolescência. Foi uma fase, boa e essencial para minha formação, porém, como toda fase, passou.
Minhas idéias agora são compartilhadas, quero que todos leiam, comentem, discutam, discordem. Todavia, idéias são idéias. Intimidades estão em outro plano, e este ainda continuará restrito às páginas dos diários que não escrevo e aos poemas que brotam todo o ano, até mesmo na prosa.
Se realmente dormi sem calcinha? Bom, isso eu deixo pra imaginação de vocês...

1 comment:

A. said...

Embora goste de poesia... sou mais prosa! E adorei a sua.

Durmo sem calcinha todo dia.

Beijos,

A